Tido, com méritos, como um dos bateristas mais influentes da história do thrash metal, status conquistado durante seu período de glória no Slayer, Dave Lombardo também se aventurou por várias outras bandas e projetos ao longo da carreira. Em seu currículo estão trabalhos com nomes como Grip Inc., Voodoocult, Testament, Fantômas, Dead Cross, Suicidal Tendencies, Mr. Bungle, Satanic Planet e mais recentemente o projeto Beloved Ghouls. Mas um dos grupos mais improváveis de imaginarmos ver Lombardo tocando um dia é o Misfits. No entanto, em 2016 a maior banda do horror punk mundial anunciou que passaria a contar com os serviços do baterista cubano.
Em recente entrevista ao podcast Speak N’ Destroy, Lombardo explicou como aconteceu a sua entrada no The Misfits, quando da histórica reunião entre os integrantes da formação clássica: o baixista Jerry Only, seu irmão Doyle Wolfgang von Frankenstein (guitarra) e o carrancudo vocalista Glenn Danzig.
“Bem, recebi um telefonema do Glenn – e eu adoro o Glenn, ele é um cara ótimo, sempre foi legal comigo, sempre tivemos ótimas conversas quando nos vemos. E ele me ligou e basicamente disse que Jerry e ele resolveram seus problemas, que ele estava disposto a fazer alguns shows com o Misfits, e que eles estavam voltando. Mas havia uma condição, que Glenn disse que era ele quem escolhe o baterista e que ele me queria. E foi isso. Não houve discussão, não houve nenhuma (outra) sugestão”.
Lombardo prosseguiu dando mais detalhes. “Ele não queria trazer nenhum dos bateristas antigos, ele queria a mim. E eu disse, ‘Uau, cara, estou honrado, obrigado!’. E aceitei. Então concordamos e eu sabia que isso seria grande. Quando você pensa no Misfits, no logotipo mais icônico do mundo e no nome mais icônico, ainda assim a banda é tão misteriosa, porque eles pararam de fazer shows no início dos anos 80”.
Lombado também falou do que pensou a partir do convite de Glenn Danzig. “Por algum motivo, meus instintos diziam, ‘É isso aí, cara. Vamos fazer isso’. Mas acho que o momento mais engraçado foi quando falei com Jerry. Encontrei-me com Jerry e ele disse: ‘Ei, pensei que você morasse em Upstate New York ou em Nova Jérsei – quando Glenn me contou desse cara, Dave Lombardo’. Ele perguntou: ‘Ah, sim, ele não mora aqui?’. E Glenn disse, ‘Não, ele é da Califórnia’. E Jerry: ‘Oh, pensei que ele fosse algum garoto italiano de Upstate’. E foi legal, nos demos muito bem, amo o Jerry – ótimo cara. Lembro-me de Jerry me dizendo: ‘Ah, sim, falei com Glenn e disse à ele como estava indo. Eu basicamente disse a ele que é como deixar cair um motor Lamborghini em um Chevy ‘51’.”.
Lombardo analisou sua experiência com o Misfits. “Realmente uma experiência, foi uma honra tocar com aqueles caras – Doyle, Glenn e Jerry, tanta história, tanto amor por aquela banda. Eu nunca, nunca ouvi uma plateia cantar junto enquanto estou no palco, sabe? Na verdade, ouvi a multidão, bem como os vocais de Glenn. E eu uso protetores de ouvido no palco e meu monitor mixado bem alto com a bateria, guitarra e voz – e ainda sou capaz de ouvir a paixão das pessoas cantando junto. É como uma celebração, cada show do Misfits que fiz, foi uma celebração. Todo mundo estava tão feliz que esses caras estavam juntos”.
O baterista também comentou sua atuação, tocando músicas gravadas por outros bateristas. “Na verdade, há muitas partes do Misfits que eu realmente queria manter, porque elas são… Sabe, você ainda tem que manter parte da integridade da música e não ir muito longe. Primeiro porque os músicos da banda irão corrigi-lo: ‘Não, esta parte não funciona assim, você deve interpretá-la assim’. Tipo, ‘Oh, OK’. E mesmo se eu modificar farei minha própria variação para torná-la mais pesada e poderosa, eles ainda gostam de como foi feito naquele disco ou de como se lembram dele”, explicou.
“Então, minha responsabilidade é garantir que, como baterista contratado, eu dê a eles o que eles querem, e isso é garantir que as partes da bateria sejam o mais próximas novamente, metronomicamente corretas. E todos os andamentos, introduções e encerramentos, tudo tem um belo laço e está muito bem amarrado. Ainda há muita responsabilidade – a música pode parecer fácil para a maioria, o que é, é tudo mid-tempo, não é muito rápido, não é thrash-fast, mas há muitas nuances. Há muitos pequenos detalhes, muitos deles – você realmente precisa prestar atenção aos momentos em que Glenn canta ou não. Se ele esticar uma seção intermediária, quem vai dar dicas aos caras da banda? Às vezes, os outros caras não conseguem ouvir ou esperam que eu dê uma dica, então tenho que ter certeza de que estou monitorando o que todos estão fazendo. Não posso simplesmente ir lá e tocar. ‘Vocês deveriam me seguir’ – não, eu deveria seguir o vocalista. Eu deveria cobrir o vocalista. Não posso fazer o cantor ficar mal, especialmente Glenn Danzig. Não posso dizer: ‘Ei, Glenn, bem, você errou’. Não, eu deveria cobrir isso. Existem certas músicas que têm semelhanças, elas começam iguais ou têm uma batida particular que é muito semelhante e, cara, às vezes, tenho que ter uma pequena anotação ao lado do meu setlist, que me dirá, ‘OK, esta é tocada desse jeito, esta (outra) é desse jeito…”.
Lombardo encerrou dando mais alguns detalhes de como funcionavam as coisas ao vivo. “Tenho que ter esses pequenos lembretes, senão você se perde. E Glenn não segue um setlist. Ele não diz, ‘OK, eu sei que depois desta música é esta’. Não, ele fará aleatoriamente pra cacete – ‘Oh, que música devemos fazer? Vamos ver…’. Tenho que saber – e são 30 músicas. Não há reclamações aqui, obviamente, é mentalmente atlético e desafiador, e você tem que realmente conhecer as músicas”.
Fonte: Roadie Crew