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Entenda como “terapia de choque” econômica de Milei pode afetar o povo

Entenda como “terapia de choque” econômica de Milei pode afetar o povo

As medidas econômicas anunciadas até agora pelo governo de Javier Milei, na Argentina, devem causar impactos expressivos e imediatos na maioria da população. O debate, que envolve especialistas e também o governo, é se os efeitos serão passageiros ou se as mudanças podem perpetuar o empobrecimento e a instabilidade econômica do país.

A conjuntura argentina envolve inflação crescente e desvalorização da moeda nacional. O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, defende que a origem de todos os problemas é o déficit fiscal do Estado, que gasta mais do que consegue arrecadar. 

A questão é que, para alcançar a meta, a escolha do novo governo é enxugar o Estado e cortar investimentos públicos, como redução de subsídios ao transporte e à energia; queda de 18 para nove ministérios; e cancelamento de obras públicas licitadas. A taxação de importações e exportações e a dispensa de funcionários do Estado com menos de um ano de serviço também foram anunciadas.

O ministro da Economia reconhece que as medidas vão piorar a situação, mas promete que, após o choque inicial, a economia deve melhorar.

“Vamos estar durante uns meses pior que antes, particularmente em termos de inflação”.

Para amenizar os efeitos negativos da medida, o governo duplicou o valor do benefício assistencial e aumentou o cartão alimentação em 50%.

Para o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o déficit não é a causa, mas o efeito do processo inflacionário e da falta de dólares. Além disso, a “terapia de choque” de Milei deve causar convulsões sociais, segundo ele.

“É um diagnóstico que não apenas é equivocado do ponto de vista teórico, porque está tomando o efeito como causa. O déficit fiscal é mais efeito do processo inflacionário do que causa. E a terapia que eles estão propondo tem o risco de causar uma severa recessão na economia com um altíssimo desemprego e um agravamento dos indicadores de pobreza”.

Roncaglia afirma que o custo das medidas recairá sobre a maioria da população. Em especial, os trabalhadores.

“As medidas geram uma pressão inflacionária hoje, o que deprime os salários de maneira muito profunda, gera dificuldade para os exportadores, não gera incentivo ao investimento. A combinação desses elementos sobrecarrega as massas populares no que diz respeito a suportar o custo da estabilização, enquanto a camada mais rica da população, que tem dólares expatriados, fora do país, não vai sofrer nada””.

Análise diferente faz o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Saya. Ele acha que a população mais pobre já está sofrendo com a inflação, e que a forma de combatê-la é atacando o déficit fiscal e equilibrando as contas públicas. 

“[Com o ajuste fiscal], o governo passa a ter mais crédito, coisa que o governo argentino não tem. Ninguém está disposto a financiar um governo em que você compra um título do governo que esse título não vai valer nada porque vai ser corroído pela inflação”.

Saya também defendeu o corte nos subsídios que, na sua visão, beneficia parcela mais rica da população.

“Por exemplo, em combustível. Então é correto tirar esses subsídios. Respinga na população mais pobre? Com certeza. E aí que está a medida de ampliar o valor pago para a população mais pobre”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elogiou as medidas anunciadas por Milei, assim como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e, segundo a agência de notícias Reuters, o mercado financeiro.

Por outro lado, movimentos sociais e sindicais argentinos já prometem protestos contra o pacote de austeridade fiscal.

 

*com reportagem de Lucas Pordeus León


© REUTERS/Agustin Marcarian

Internacional Debate é se efeitos serão passageiros ou vão piorar a situação do país Brasília 16/12/2023 – 07:49 Sumaia Villela Sumaia Villela – editora da Radioagência Nacional* Argentina. Javier Milei austeridade fiscal Estado mínimo sábado, 16 Dezembro, 2023 – 07:49 249:00

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