“Iemanjá é uma divindade feminina e ela tem vários nomes em forma de cultuar. Por exemplo, na nação Ketu, ela é Iemanjá. Na nação Angola ela é Kaiala. E na nação Jeje, dependendo dos caminhos, ela pode ser chamada de Aziri-Tobossi… e assim sucessivamente”.
“Quando a gente quer chamar Iemanjá, além da gente cantar para ela, a gente fala Odoyá, que é trazendo a água do mar para as nossas vidas. Iemanjá é uma divindade cultuada de grande importância em todos os terreiros porque ela representa o ori, a cabeça e o pensamento. E a figura dessa divindade, ou seja, deste orixá, dentro da minha liturgia tem o grande significado de ser uma mãe acolhedora”.
Você acaba de ouvir os ensinamentos da Yalorixá Jaciara Ribeiro. Ela é responsável pelo terreiro Axé Abassá Ogum, que fica no bairro de Itapuã, em Salvador. A festa de Iemanjá está diretamente ligada às religiões afrobrasileiras. Mãe Jaciara esclarece que, no candomblé, Iemanjá é homenageada em outros momentos: não é somente no dia 2 de fevereiro que a rainha do mar recebe presentes. Mas é no dia 2 que várias pessoas se unem com este mesmo objetivo, tornando a festa cada vez mais bonita.
“Eu acho que, para a festa do Rio Vermelho, (é ir para) agradecer Iemanjá, agradecer o alimento que ela dá, é também fazer uma oferenda muito consciente para não haver impacto ambiental. A minha participação é educativa. A gente tem uma cartilha que fala de como fazer esta oferenda sem precisar levar frascos de vidro, sem precisar colocar muitos sabonetes, porque a gente sabe que o mar não precisa disso. Não precisamos levar lixo. Nós precisamos fazer uma oferenda a partir da natureza”.
Agora que a festa de Iemanjá completa 100 anos, a emoção é ainda maior. A Yalorixá Jaciara Ribeiro afirma que, ter um dia dedicado à Iemanjá, no ciclo de festas populares da Bahia, representa o respeito à nossa cultura ancestral que vem da África:
“Eu acredito que é um momento de celebrar mesmo. Cem anos do presente. Esse ano ele vai estar saindo de um terreiro, que é a Casa de Oxumarê, com Babá Pecè. O presente principal vai estar saindo de lá, levando para Iemanjá. Isso é reafirmar que a gente não vai dar um passo atrás e eu acredito que, por ser uma festa no calendário que expressa a religião de um povo de tradição de matriz africana, para a gente do candomblé é algo muito importante. A gente vai ter uma visibilidade realmente de mostrar o que é o candomblé, de denunciar que a gente não faz bruxaria… que a gente só está para agradecer ao meio ambiente, à Iemanjá, ao mar, por tudo que a gente recebe deste local”.
A empresária Stella Maris de Almeida faz parte da multidão que presta homenagens a Iemanjá, no dia 2 de fevereiro. Ela revela que, em vários momentos da vida, tem a própria história conectada à Rainha do Mar:
“Eu nasci sob a tutela de Iemanjá. Minha mãe me deu o nome de Stella Maris. Eu sou do Recôncavo da Bahia, sou de Santo Amaro, e a minha vida inteira foi beirando o mar. E sempre tive essa relação com o mar muito forte. Quando eu vim para Salvador para trabalhar, fazer música, enfim, estudar na Escola de Música, também continuei muito próxima. Quando, de 2005 para 2006, eu passava ali pela orla – eu morava aqui no Rio Vermelho – e vi uma casa para alugar em frente à Iemanjá. Em frente à sereia, à casa de Iemanjá, na Colônia dos Pescadores. Eu aluguei a casa e fui conhecer a festa de Iemanjá, a festa de 2 de fevereiro. Sempre fiz a festa de 2 de fevereiro. A casa fica em frente à ela e sei que foi um presente que ela me deu. Virou uma referência a Casa da Mãe de música, de cultura, e a gente vai cantar para Iemanjá no dia 2. Tem o show de Jussara Silveira, com convidados, e eu vou cantar também para ela, e homenagear a Rainha do Mar”.
Cultura Salvador 01/02/2023 – 14:10 Rádio Nacional / Nathália Mendes Suzana Lima – Repórter da Rádio Educadora FM Iemanjá Religiões Afrobrasileiras Presente de Iemanjá quarta-feira, 1 Fevereiro, 2023 – 14:10 6:01