O “SE” não entra em campo e já seria um grande motivo para não tratarmos qualquer assunto relativo ao futebol com essa conjunção adverbial condicional. Isso de forma oficial, visto que nada é capaz de mudar depois de acontecido. Mas, de maneira imaginária, a brincadeira é possível. E eu pergunto: e se aquele chute do Michael, aos 40 minutos do segundo tempo, tivesse entrado?
Para início de conversa, poderia ser o gol decisivo, mas nada nos impede de imaginar que o Palmeiras poderia empatar de novo, ainda mais se pensarmos que, em 2019, o mesmo Flamengo virou sobre o River Plate nos minutos finais. Mas vou seguir com a possibilidade da vitória rubro-negra.
Creio que o Renato Gaúcho não seria o técnico do Flamengo no ano que vem, mas ficaria até o fim da temporada, para encerrar o Brasileirão. As críticas ao comportamento dele na partida contra o Grêmio continuariam sendo decisivas, mas o técnico sairia por cima, com portas mais facilmente abertas em outros clubes. Seria merecedor?
O departamento médico do Flamengo talvez nem passasse por uma reformulação tão drástica, quanto se anuncia. Afinal de contas, em caso de vitória, teria a favor dele o fato de Arrascaeta ter jogado 90 minutos e o time ter suportado a decisão fisicamente bem. A terra já não estaria tão arrasada. Seria um bom negócio para o futuro do Flamengo?
A torcida estaria pensando numa reformulação grande da equipe, que passaria a contar com bicampeões brasileiros e sul-americanos? Com relação ao time haveria algo de bom: o Andreas Pereira não teria falhado de forma tão bisonha, logo ele que era um dos destaques do jogo.
E o Abel Ferreira? Será que o Palmeiras renovaria o contrato dele? O torcedor palmeirense o acharia um gênio ou um retranqueiro que não soube enfrentar o Flamengo, em nenhum dos jogos da temporada (até então, eram quatro jogos, com três vitórias rubro-negras e um empate, na decisão da Supercopa que ficou no Rio de Janeiro)? O goleiro Weverton ocuparia a vaga de “culpado pela derrota” do Andreas Pereira, por suposta falha no gol do Gabigol?
Nem tudo mudaria, mas muita coisa, sim. E as mudanças são necessárias para se evoluir. É importante observar que a vitória, às vezes, acoberta erros, que são pagos depois, talvez com juros. E da mesma forma a derrota nos abre os olhos, de forma a corrigir um rumo e percorrer um caminho melhor depois. O Flamengo, na final da Libertadores de 2019, jogou mal e ganhou graças à individualidade de Gabigol; não fez um jogo brilhante contra o River Plate. Ganhou o Brasileirão de 2020 porque o Internacional, na última rodada, não marcou sequer um golzinho contra o Corinthians. São dois fatores reais, por mais doloroso que possa ser para o coração de um rubro-negro que está lendo agora.
Não estou dizendo, com isso, que o Flamengo não tenha merecido. De forma alguma! Mas foram dois sinais de que o time de outro patamar já não estaria sozinho nesse degrau mais alto, quando os adversários mais fortes e próximos fizessem um investimento melhor. O Flamengo ainda tem os melhores jogadores? É possível, mas tanto o Palmeiras, quanto o Atlético-MG, chegaram ao patamar rubro-negro. Com uma diferença: ao longo de 2021, ambos tiveram apenas um técnico. E talvez essa tenha sido a diferença, na hora da decisão.
A rivalidade estadual ainda existe, mas os adversários do Flamengo, agora, são de outros estados. Se a torcida aceitar, o Estadual deveria ser o período de preparação para as grandes competições, onde estão os novos rivais. Resta saber se ela tem essa compreensão. O problema é que o “SE” não entra em campo.
Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil
Edição: Verônica Dalcanal
*Agência Brasil